Saturday, April 05, 2014

A Irmandade dos Jiners - Elbert Hubbard

Não, não pertenço a uma Igreja nem a qualquer Sociedade Secreta.
Não pertenço a coisa alguma, exceto ao corpo de bombeiros de East Aurora.
Porque uma pessoa livre deveria pertencer? Claro que sou membro da Sociedade dos Filistinos, mas posso renunciar a qualquer momento, se aparecer na revista algum artigo que não me agrade; assim não se pode dizer que realmente pertenço. Pertencer implica em alguém ter você preso por uma corda. E também não quero que alguém me "pertença".
Eu só prenderia um amigo pela virtude que existe em mim, pela atração do valor que há em minha alma.
Apesar de tudo, porém, eu poderia pertencer a uma sociedade Secreta, se assim pudesse adquirir alguma sabedoria que fosse impossível encontrar de outra forma.
Só que não existe nenhuma Sociedade Secreta que tenha se apossado da verdade. A verdade está no ar; quando sua cabeça alcança a camada certa, você a conhece. ninguém pode transmití-la a você até que chegue o momento oportuno; e quando chega o momento de você conhecê-la, não precisa fazer nada de excepcional para compreender. A verdade eterna de Deus não é obtida assim.
Darwin diz que o instinto gregário dos animais está baseado no medo.
Ovelhas e vacas andam em rebanhos, enquanto um leão se congrega apenas com sua companheira. Friedrich Nietzsche escreve em seu Terceiro Ensaio sobre a Genealogia da Moral: "impelidos por um desejo de se livrarem da depressão e impotência, os doentes e fracos instintivamente se empenham pela organização gregária. Os que desejam comandar sempre fomentaram o medo, estimulando essa tendência à reunião, prometendo proteção e oferecendo a transmissão de conhecimentos valiosos, em troca de uma vida faustosa."
O instinto de Jiner no homem é uma manifestação de fraqueza, não de força. É o ímpeto de se apropriar de alguma coisa por nada, de agarrar um bem que você não ganhou.
Andando com a turma, você espera se tornar sábio. A sabedoria pode às vezes ocorrer a homens solitários, mas nunca é encontrada na multidão. Eu me oponho a segredos por princípio. A verdade é uma coisa que se pode esconder num pote de biscoitos ou numa prateleira alta. Você é bem vindo a tudo o que tenho para transmitir; e se dispões da verdade que o mundo precisa, e a guarda para si,  então não é da minha espécie.
Mas o fato é que não se pode fazer isso. No passado, quando a mão de cada homem se levantava contra o próximo, era conveniente e certo que os homens se unissem a outros para enfrentar um inimigo comum. Clã lutava contra clã com unhas e dentes; saquear, roubar e matar era o direito de quem podia - e para incrementar esta situação surgiram as Sociedades Secretas, com seus juramentos, senhas e sinais. As Sociedades Secretas são um produto da selvageria; o fato de existirem é prova de nossa origem. Todos os homens são meus irmãos, não apenas aqueles que pertencem.
É claro que não afirmo que as sociedades Secretas são instituições brutais agora. ao contrário, são instituições inocentes e mansas, em que os homens se reúnem para um pouco de diversão e companhia agradável. Como instituições sociais, não representam qualquer problema; ainda mais porque não tem "segredos".
Sei muito bem que o último comentário vai acarretar uma pergunta imediata:
- Como pode saber, já que não pertence?
Pois respondo que conheço os homens que pertencem. E são homens de bem. Um deles, que alcançou o 48º grau em alguma sociedade, é o proprietário da fazenda ao lado da minha. No verão, com frequência, vamos nadar juntos no córrego. Quando paramos na margem, despidos, prontos para mergulhar, eu desafio Herr Tuefelsdroch ou qualquer dos seus discípulos a revelar qual é o bípede que mantém em sua epiderme a Grande Doutrina Secreta.
Meu vizinho possui a verdade espiritual que desconheço?
Não, não possui, É um homem de bem, mas não tem em sua posse nenhuma das grandes pedras preciosas espirituais sul-africanas. Se tivesse, ele exibiria os ombros encurvados por carregá-las. E a virtude de meu vizinho está no fato de que, quando estamos a sós, ele confessa que as suas atividades não lhe proporcionaram qualquer percepção profunda do mistério das coisas. Ele pertence à sua sociedade apenas pelo aspecto social.
Há vários outros homens dignos na cidade que pertencem a Lojas. Conheço duas dúzias ou mais; conheço alguns há mais de vinte anos e estive ao lado deles em todas as vicissitudes da vida. Compro aveia e feno deles; e quando me trazem batatas, as piores estão geralmente no fundo do saco. Encontro esses Jiners na mercearia, ou na estação, quando vamos assistir à chegada do trem das quatro horas; muitas vezes jogo malho com eles e certamente seria vil de minha parte insinuar que havia alguma coisa errada nas atividades das Sociedades Secretas.
O que desejo ressaltar com tudo isso é que eles não estão muito além de mim na verdade esotérica, pois quase sempre esvazio o saco de batatas no chão do estábulo, antes de fixar o preço. Um dos motivos pelos quais critico as Sociedades Secretas é o fato de excluírem as mulheres, em sua maior parte. Se uma coisa é boa, o homem que a esconde da mulher que ama é bem pequeno; e se uma coisa não é boa e ele finge que é para a mulher, mantendo-a numa prateleira alta, ainda está sendo pequeno…e os dois sabem disso.
Muito já se escreveu na Imprensa Cômica sobre o comparecimento à Loja e a infelicidade conjugal às vezes decorrente; mas a piada está baseada num fato triste e lamentável. As Sociedades Secretas tendem a separar os sexos em suas ocupações mentais, o que constitui a acusação mais veemente que se pode lançar contra elas. Homens e mulheres devem comungar intelectualmente; as juras de amor não são suficientes. Limitar-se a isso é odiar mais tarde. Quando homens e mulheres se encontram apenas pelo amor, a sociedade é essencialmente bárbara; e quando os machos monopolizam, pensam ou fingem pensar que monopolizam a sabedoria, há pouca esperança de progresso. O homem não pode avançar e deixar as mulheres para trás. E o único elemento pelo qual se pode dar os parabéns em toda essa história é o fato das Sociedades Secretas não terem nenhum segredo que valha qualquer coisa. A sabedoria de que dispõe é acessível a qualquer homem ou mulher que possa absorvê-la.
Tenho encontrado bem poucos homens e mulheres, ao longo de minha vida, que possuem uma valiosa Verdade Espiritual. E soube disso não porque eles anunciassem, mas porque uma luz brilhava em seus rostos; de suas pessoas emanava uma radiância; em todas as suas ações havia uma dignidade que dava peso a suas palavras. Mas esses raros não "pertenciam"- eram eles próprios e eram grandes porque eram. Suas almas haviam absorvido uma recompensa do Espírito Divino. Mantenhamos as janelas abertas para o Oriente, sejamos dignos e algum dia saberemos.


Sobre o Autor: Elbert Hubbard, conhecido mundialmente por ter escrito a Mensagem a Garcia, uma das mensagens mais inspiradoras já escritas pelo homem.

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